Projeto Trajetórias Artísticas Unifor apresenta exposições de Alina Duchrow e Ana Cristina Mendes

 

As mostras “Teologia Natural” e “Nascente” podem ser conferidas a partir do dia 20 de agosto de 2024 nas galerias térreas do Espaço Cultural Unifor; a visitação é gratuita

A Universidade de Fortaleza – instituição da Fundação Edson Queiroz – inaugura, no próximo dia 20 de agosto, a partir das 19h, as exposições “Teologia Natural”, de Alina Duchrow, e “Nascente”, de Ana Cristina Mendes. As mostras levam a chancela do projeto Trajetórias Artísticas Unifor, que apresenta exposições de artistas cearenses nas galerias térreas do Espaço Cultural Unifor, e contam com a curadoria de Ana Valeska Maia Magalhães, professora de história da arte há mais de 20 anos, autora de livros e ensaios sobre arte e psicanálise. As mostras estarão abertas para visitação gratuita de terças a sextas, das 9h às 19h, sábados e domingos, das 12h às 18h, até 15 de dezembro de 2024.

As exposições marcam o reencontro de duas artistas depois de quase uma década. No primeiro encontro, as artistas não se conheceram pessoalmente, mas Duchrow colaborou em um projeto de Ana Cristina em 2013, que resultou no vídeo “Msafer”, que estará na exposição “Nascente”. Esse reencontro, ainda que tenha acontecido de forma natural, pode ser visto como as correntes dos rios que se encontram. As águas dos rios, inclusive, estão presentes nas duas exposições. Na mostra de Alina Duchrow o rio Amazonas surge com relevância, enquanto na arte de Ana Cristina Mendes o rio Jaguaribe, no Ceará, e o rio Capaska, na Macedônia, encontram metaforicamente suas águas.

“A exposição ‘Teologia Natural’ vai além de simplesmente apresentar obras de arte; ela serve como um catalisador para discussões sobre como vivemos, interagimos e impactamos o mundo ao nosso redor. Com esta mostra, Alina Duchrow não apenas captura a beleza e a complexidade da natureza, mas também ressalta a importância da consciência ambiental e cultural em nossa sociedade contemporânea”, destaca Lenise Queiroz Rocha, presidente da Fundação Edson Queiroz, que completa: “‘Nascente’ é outra vitrine para a arte contemporânea, atuando como um lembrete da importância de preservar nossas tradições e o ambiente ao redor. A exposição destaca como a arte pode influenciar nossa percepção do mundo, incentivando o diálogo entre o passado e o presente”.

“Nascente” traz uma série de trabalhos inéditos e também trabalhos históricos na trajetória de Ana Cristina Mendes, representativos desses 20 anos de trabalho, e a sua relação que dialoga com o rio Jaguaribe e um rio da Macedônia do Norte. As distâncias e fronteiras são características da trajetória dessa artista e de seu lugar do exílio. Já Alina Duchrow faz uma conexão de pesquisa e desenvolvimento de obras a partir do ciclo da borracha na Amazônia e a migração de cearenses. A artista expõe uma teia com ligações com a cidade de Canindé, com a saída dos cearenses, a Região Amazônica e toda essa rede de dores, afetos e ausências”, esclarece a curadora.

Alina d’Alva Duchrow – Teologia Natural

A exposição “Teologia Natural”, de Alina Duchrow, oferece uma experiência artística que transcende a tradicional apresentação de obras de arte para abordar questões profundas de sustentabilidade e a interação do homem com a natureza. Por meio de uma série de instalações que utilizam materiais naturais como látex, a artista brasileira residente em Marrocos nos convida a refletir sobre a exploração ambiental e a memória cultural.

Na instalação intitulada “Medicina”, Duchrow molda o látex à mão, criando formas que lembram a textura da matéria vegetal, representando uma crítica à perda de conexão com a natureza em ambientes industriais. As peças, variando em tamanho e forma, são apresentadas em uma configuração que simula uma nova paisagem, desafiando o espectador a considerar as consequências ambientais de nossas ações diárias.

Outra instalação marcante da exposição é “Eldorado”, que explora a história violenta da exploração da borracha na Amazônia. Usando grafite e látex sobre papel artesanal, Duchrow cria uma série de fragmentos de texto e imagens que trazem à tona as interações oníricas entre histórias, seres e mitos. Esta obra reflete sobre a violência colonial e seus efeitos duradouros sobre as paisagens e as pessoas.

A obra-símbolo da exposição “Teologia Natural” é um Grafite e látex em papel feito à mão, que está presente na instalação Eldorado (Imagem: Divulgação)

Além de suas próprias criações, Alina colabora com o artista marroquino Ziad Naitaddi na instalação “UM”, que explora temas de deslocamento e alteração cultural com uma série de impressões e a vídeo-instalação “Carta à Reina”.

Os vídeos têm uma forte presença na exposição. “Quem me encontrar parado me empurre para o meio” mostra quatro barquinhos que foram lançados ao rio Amazonas, contendo apenas a inscrição que dá nome ao vídeo, simbolizando os barquinhos de madeira que os cearenses exilados na Amazônia lançavam ao mar para pagar as promessas feitas, nos momentos de desespero, a São Francisco de Canindé. Já “A semente” é um diário de viagem, que reúne fragmentos de muitas histórias que se entrelaçaram à história da artista ao longo de uma pesquisa de quatro anos sobre a exploração da borracha na região amazônica.

Ana Cristina Mendes – Nascente

A artista Ana Cristina Mendes apresenta a exposição “Nascente”, com entrelaçamentos da natureza com a mitologia, representados de maneira única. A exposição está distribuída em várias salas, cada uma com uma temática específica que explora diferentes aspectos da relação entre o ser humano e o ambiente natural.

Obras como “Vídeo Nascente” e “Sonhário” utilizam elementos como água e terra para criar uma experiência imersiva que convida os visitantes a refletir sobre as origens e a constante transformação da natureza. A artista usa projeções e instalações para criar um diálogo inicial com o público sobre a importância e a beleza do mundo natural.

O vídeo instalação “Macedônia” é a obra-símbolo da exposição “Nascente” (Imagem: Divulgação)

A exposição se aprofunda nas conexões culturais e históricas do Nordeste com peças como “Sertão de Fora” e “Bichos do Rio”. Essas obras exploram lendas locais e a rica biodiversidade da Região. A mostra se torna mais íntima com “Oceano[in]vestido”, “Enquanto por ali discorria” e  “Manual de identificação”. Aqui, a artista explora mitologias pessoais e globais por meio de objetos como vestidos e esculturas, que capturam momentos e emoções, refletindo sobre as jornadas pessoais e coletivas em relação à natureza.

Sobre as artistas

Alina Duchrow

Alina d’Alva Duchrow nasceu em Fortaleza, no Ceará, e atualmente vive e trabalha em Rabat, Marrocos. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UNB – Universidade de Brasília, fez pós-graduação em artes visuais na Universidade Alanus Hochschule, Bonn, Alemanha (2010) e graduou-se em Arquitetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo – USP (1996).

Participou de exposições coletivas, individuais e residências artísticas em vários países da Europa, África e América Latina, incluindo: Centro de Arte Le Cube, Rabat, Marrocos; Caixa Econômica Cultural, Brasília-DF (2020); 45º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto – Santo André-SP (2018); Museu Nacional de Brasília (2017); XXX FUORIFESTIVAL em Pessaro, Itália (2016); Bienal Internacional de Cerveira – Vila Nova de Cerveira, Portugal (2015); 11ª Bienal de Dakar (2014); Programa de Residência Artística LAB-VERDE, Manaus – Amazônia (2018).

Como artista, ela utiliza vídeo, fotografia, desenho e instalações multimídia em espaços públicos e privados. Na maioria das vezes, seu trabalho se concentra em um contexto local, um ponto de partida que gera ferramentas e insights sobre como lidar com o tempo, o espaço e o outro. Em seus trabalhos recentes, a artista investiga eventos históricos, resíduos do colonialismo, que foram esquecidos, tornados invisíveis ou deliberadamente negados pelo discurso oficial. O projeto se desdobra em uma cartografia de narrativas que denunciam um evento por meio de uma enunciação multi-temporal e polifônica, e se debruça especialmente sobre micro-narrativas e sobre os próprios cruzamentos biográficos da artista, colocando em correspondência diferentes regimes de imagem e modos narrativos.

Ana Cristina Mendes

Ana Cristina Mendes é artista visual, estilista, mestre em Artes pelo PPGArtes ICA-UFC e coordena a Ponte Cultura Alemanha no Brasil. Sua pesquisa artística permeia o corpo como veste e suporte das matérias subjetivas e essência de si, estendendo-se ao universo têxtil, ao tecido, à vestimenta como extensões.

A poética do seu trabalho transita do individual às ações colaborativas, performances, vídeo, videoinstalações, pintura e escultura articuladas em ações em que o corpo experimenta sensações imersivas dos limites internos ao que escapa, aberto à intuição e aos disparos que levam o trabalho a mover-se por camadas sensoriais e afetivas, sempre buscando conexões com a natureza, o outro, o distante e a si mesma.

Participou de exposições coletivas, individuais, performances e residências artísticas em âmbito nacional e internacional. Foi premiada em duas edições da Unifor Plástica (2005 e 2011), Secultfor (2010/2011) e Minc (2015).

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